A AUSÊNCIA DE UMA RESPONSABILIDADE PENAL EMPRESARIAL EFICAZ COMO AMEAÇA AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

  • Ale x Fernandes Santiago
  • Plínio Lacerda Martins
Palavras-chave: Responsabilidade penal empresarial. Estado supervisor. Estado Democrático de Direito. Teoria dos sistemas. Trilema regulatório de Teubner.

Resumo

A prevalência do modelo do Estado supervisor preconizado por Wilke explica muitos dos problemas enfrentados na normatização da atividade empresarial. A reprodução do Direito e da Política fi ca sob suspeita de uma dupla autoridade, que se divide entre a administração estatal e os sistemas sociais funcionais, principalmente o econômico. Ao liberar os sistemas de seus papéis instrumentais e promovê-los a fi m em si mesmos, a estrutura constitucional do sistema político, concebida no Estado Democrático de Direito, resta prejudicada. Não bastasse, a infl uência de preocupações econômicas é tamanha que também compromete em outro fl anco o Estado Democrático de Direito, conforme a teoria da responsabilidade de Günther, diante da ausência de uma responsabilidade penal empresarial efi caz, seja, no plano abstrato, pela ausência de legislação penal empresarial voltada para a efetividade, seja no plano concreto, pelos óbices investigativos, doutrinários ou mesmo jurisprudenciais frequentemente encontrados. Essa ausência de efi cácia ainda afeta a dupla contingência existente no sistema de licenciamento ambiental, pois somente foi concedida a licença administrativa para o exercício de atividades potencialmente poluidoras porque se confi a na existência de uma responsabilidade penal empresarial para aqueles que não sujeitam adequadamente a fonte de perigos pelos quais são responsáveis.

Referências

BARROS, Leme de et al. Teoria dos Sistemas, Regulação e Direito Ambiental: Entrevista com
Bettina Lange. Revista de Estudos Empíricos em Direito, v. 6, 2019.
BECK, Ulrich. Políticas ecológicas en la edad del riesgo. Antídotos. La irresponsabilidad organizada.
Barcelona: El Roure, 1998.
. La sociedad del riesgo global. 2. ed., Madrid: Siglo XXI, 2009.
CLINARD, Marshall B.; YEAGER, Peter C. Corporate crime. 3. ed. New Brunswick: Transaction
Publishers, 2006.
CORREIA, Eduardo. Direito criminal. Coimbra: Livraria Almedina, 1968.
CRAWFORD, Colin. La promesa y el peligro del derecho medioambiental: los retos, los objetivos
en confl icto y la búsqueda de soluciones. In: CRAWFORD, Colin (Comp.). Derecho ambiental y
justicia social. Bogotá: Siglo del Hombre Editores, Universidad de los Andes, Pontifi cia Universidad
Javeriana, 2009.
DÍEZ, Carlos Gómez-Jara. (Orgs.). AAVV. Teoría de sistemas y Derecho Penal. Fundamentos y
posibilidad de aplicación. Lima: Ara Editores, 2007.
FARALDO CABANA, Patricia. Posibilidades de aplicación de la autoría mediata con aparatos
organizados de poder en la empresa. In: ZAPATERO, Luis Arroyo; LASCANO, Carlos; NIETO
MARTÍN, Adán. (Dirs.). AAVV. Derecho penal de la empresa: del derecho penal económico del
estado social al derecho penal de la empresa globalizado. Buenos Aires: Ediar, 2012, p. 217-218.
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Sobre la “administrativización” del derecho penal en la “sociedad
del riesgo”. Derecho penal contemporáneo. Revista Internacional, Bogotá, n. 4, jul./set. 2003.
GAMBA, Juliane Caravieri Martins. Direito e justiça sob a ótica da teoria dos sistemas de Niklas
Luhmann. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, v. 29/2012, p. 379-404, jan./jun. 2012,
DTR\2012\44810.
GARCÍA AMADO, Juan Antonio. Sociología sistémica y política legislativa. In: DÍEZ, Carlos
Gómez-Jara. (Orgs.). AAVV. Teoría de sistemas y Derecho Penal. Fundamentos y posibilidad de
aplicación. Lima: Ara Editores, 2007.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
GREEN, Stuart P. Mentir, hacer trampas y apropiarse de lo ajeno. Una teoría moral de los delitos
de cuello blanco. Madrid: Marcial Pons, 2013.
GÜNTHER, Klaus. Responsabilização na sociedade civil. In: PÜSCHEL, Flavia. Teoria da responsabilidade
no estado democrático de direito: textos de Klaus Günther. São Paulo, Saraiva, 2009.
HABERMAS, Jürgen. Between facts and norms. Contributions to a Discourse Theory of Law
and Democracy. Cambridge, Massachusets: The Mit Press, 1998.
. A crise de legitimação no capitalismo tardio. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2002.
. Técnica e ciência como “ideologia”. Lisboa: Edições 70, 2009.
. Teoria do agir comunicativo, 2: Sobre a crítica da razão funcionalista. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2012.
. Facticidade e validade: contribuições para uma teoria discursiva do direito e da democracia.
São Paulo: Editora Unesp, 2020.
JAKOBS, Günther. Derecho penal. Fundamentos y teoría de la imputación. 2 ed., Madrid: Marcial
Pons, 2010.
JOAS, Hans; KNOBL Wolfgang. Teoria social: vinte lições introdutórias. Petrópolis, Rio de Janeiro:
Vozes, 2017, p. 302.
KUHLEN, Lothar. El Derecho penal del futuro. In: ZAPATERO, Luis Arroyo; Neumann, Ulfrid;
Nieto Martín, Adán. (Orgs.). Crítica y justifi cación del derecho penal en el cambio de siglo: el
análisis crítico de la escuela de Frankfurt. Cuenca: Universidad de Castilla-la Mancha, 2003.
LUHMANN, Niklas. Sociologia do direito. v. I e II. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro,
1983.
. Ökologische Kommunikation. Kann die moderne Gesellschaft sich auf ökologische
Gefahrdungen einstellen? 4 ed. Wiesbaden: VS Verlagen für Sozialwissenschaften, 2004.
LUHMANN, Niklas. Introdução à teoria dos sistemas. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
. Sistemas sociais: esboço de uma teoria geral. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.
MACHADO; Marta Rodrigues de Assis; PÜSCHEL, Flavia. Klaus Günther. Culpa penal no Estado
Democrático de Direito. In: NOBRE, Marcos. (Org.). AAVV. Curso livre de teoría crítica.
Campinas: Papirus, 2008.
MÜLLER-TUCKFELD, J. C. Ensayo para la abolición del Derecho Penal del medio ambiente.
In: La insostenible situación del Derecho Penal. Área de Derecho Penal de la Universidad Pompeu
Fabra.
MUÑOZ CONDE, Francisco. ¿Cómo imputar a título de autores a las personas que, sin realizar
acciones ejecutivas, deciden la realización de un delito en el ámbito de la delincuencia organizada
y empresarial? Revista La Ley Penal, Madrid, n. 9, jan. 2002.
MUÑOZ MORALES, Marta. La armonización y la unifi cación como instrumentos de global
governance. In: ZAPATERO, Luis Arroyo; LASCANO, Carlos; NIETO MARTÍN, Adán. (Dirs.).
AAVV. Derecho penal de la empresa: del derecho penal económico del estado social al derecho
penal de la empresa globalizado. Buenos Aires: Ediar, 2012.
OST, François. A natureza à margem da lei: a ecologia à prova do Direito. Lisboa: Instituto
Piaget, 1995.
PARSONS, Talcott. Interaction, International Encyclopedia of the Social Sciences. v. 7. Nova
York: 1968.
; SHILS, Edward. Toward a General Theory of Action. Cambridge: Harvard University
Press, 1951.
ROXIN, Claus. Derecho penal. Parte general. Tomo I. Fundamentos, la estructura de la teoría
del delito. Madrid: Civitas, 2010.
SANTIAGO, Alex Fernandes. Fundamentos de direito penal ambiental. Belo Horizonte: Del Rey,
2015.
; MARTINS, Plínio Lacerda. Teoria dos sistemas: a dupla contingência como fundamento
da responsabilidade penal empresarial ambiental. Revista de Direito Ambiental, v. 103, ano 26, p.
47-88, jul./set. 2021.
SHOVER, Neal; ROUTHE, Aaron. Environmental crime. Crime & Justice, v. 32, 2005.
SLAPPER, Gary; TOMBS, Steve; Corporate crime. Essex: Longman, 1999.
TARDE, Gabriel. Foules et sectes au point de vue criminal. Revue des Deux Mondes, 15 nov. 1893.
. Sociología criminal y derecho penal. Buenos Aires: Ad-Hoc, 2011.
TEUBNER, Gunther. After Legal Instrumentalism? Strategic Models of Post-Regulatory Law.
International Journal of the Sociology of Law, 12, 1984.
TONKONOFF, Sergio. Lo social y sus paroxismos. El delito en la obra de Gabriel Tarde. Estudo
preliminar. In: TARDE, Gabriel. Sociología criminal y derecho penal. Buenos Aires: Ad-Hoc, 2011.
WEBER, Max. A gênese do capitalismo moderno. Organização, apresentação e comentários: Jessé
Souza. Trad. de Rainer Domschke. São Paulo: Ática, 2006.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. La Pachamama y el humano. Buenos Aires: Ediciones Madres de
Plaza de Mayo, 2012.
Publicado
11-03-2024
Como Citar
Ale x Fernandes Santiago, & Plínio Lacerda Martins. (2024). A AUSÊNCIA DE UMA RESPONSABILIDADE PENAL EMPRESARIAL EFICAZ COMO AMEAÇA AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. Revista Do Ministério Público Do Rio Grande Do Sul , 1(94), 49-76. Recuperado de https://www.revistadomprs.org.br/index.php/amprs/article/view/334